“Jogando meu corpo no mundo,
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto (…)”
(Mistério do planeta – Luis Galvão/Moraes Moreira)
Texto e fotos: Anne Rocha – 32 anos, aventureira incorrigível, jornalista viciada em endorfina e especializada em Educação e Tecnologia.
Desde 2010, me dedico a fazer viagens que acrescentem leveza à minha alma e reiniciem o meu sistema operacional, me ajudando a enfrentar o dia a dia corrido de jornalista. Destinos como Chapada Diamantina, Jalapão e Sertão mineiro, das quais guardo ótimas lembranças e lindas fotos, me tornaram sem dúvida uma pessoa melhor.
Minha última aventura foi conhecer o Monte Roraima, na Venezuela, em outubro de 2015. O lugar já estava na minha lista há tempos, mas adiei um pouco, esperando que a febre da novela global “Império” (cuja ficção remetia ao Monte) passasse, fator que onerou bastante o preço da viagem durante um período. Pesquisa daqui em blogs de mochileiros, pechincha dali, entrei em contato com a única agência brasileira habilitada pela Embratur a guiar aventureiros na trilha do Roraima. Há empresas venezuelanas que oferecem o serviço, mas infelizmente, por questões de (in)segurança é mais difícil para mulheres sozinhas – como era o meu caso – atravessar a fronteira Brasil/Venezuela, fazer câmbio e demais trâmites necessários à viagem sem conhecer a região. Então, optei por começar meu roteiro na cidade de Boa Vista, capital do estado de Roraima, extremo norte do país. Foi lá que conheci as pessoas que me acompanhariam nos nove dias seguintes e que se tornariam minha família. A Família Roraima, que ainda tem muito a desbravar juntos pelo mundo a fora!
Também foi lá onde ouvi o briefing mais realista de todas as viagens que já fiz. A trilha nem de longe é fácil, se você pensa em visitar o Monte Roraima, falo sério, prepare-se e não tenha frescura. Aliás, é uma boa hora para despertar o lado guerreiro espartano que temos escondido dentro de nós. Toda atenção ao caminho é pouca: longas caminhadas diárias, temperaturas que não deixam a desejar a qualquer deserto (quente durante o dia, frio pacas durante a noite), animais peçonhentos, MUITOS mosquitos.
As maiores dicas para aproveitar bem a experiência é levar a sério as orientações que os guias lhe passam, abusar do protetor solar, do repelente, do Clorin e evitar ao máximo acidentes que necessitem de resgate – feito só por meio de helicóptero e quando as condições climáticas permitem.
Porém, não se assuste… acredite, a viagem vale totalmente a pena, cada segundo dela. Qualquer risco é compensado ao ver as paisagens mais inacreditáveis e ao sentir o coração palpitar ao perceber a pulsação de cada pedra. Fauna, flora e formações rochosas que só existem ali, preservadas e quase intocadas, há milhões e milhões de anos.
O Monte Roraima é um dos sete tepuis que compõem a região chamada de Gran Sabana e é frequente a sensação de que o tempo por aquelas bandas não passou, que um dinossauro pode aparecer na sua frente a qualquer momento (depois fui descobrir que cenas do primeiro Jurassic Park foram filmadas por lá, rs). Geologicamente, constituem uma das formações mais antigas do planeta, datando do período pré-cambriano.
Saindo de Boa Vista, cruzei a fronteira com meu grupo, de sorriso no rosto, mochilão, bolívares (moeda corrente), certificado de vacinação internacional (vacina contra febre amarela em dia é obrigatória) e RG em punho (Venezuela e Brasil fazem parte do Mercosul, prescindindo de passaporte na alfândega). Passamos uma noite em Santa Elena de Uiarén e seguimos para o Parque Nacional Canaima, onde fica a aldeia indígena Paratepui, início efetivo da subida até o Monte.
Daí para a frente, os dias foram intensos, plenos de experiências incríveis que mudaram a minha vida. A energia do lugar é tão forte que lhe sacode a alma: o Tepui é vivo! Acordávamos às 4h30 cheios de disposição e dormíamos com frequência antes das 20h, só com a luz das estrelas e da lua. A cada dia, sob as bençãos de Makunaima, entidade protetora da região, eram novas belezas, descobertas e aventuras nos quase 3000 mil metros de altitude. Rios, cachoeiras, rochas erodidas que se assemelham às construções do Camboja, cavernas que servem de acampamento, vales cobertos de cristais, marco da tríplice fronteira (Brasil, Guiana, Venezuela), jacuzzis com água a 15 graus – compensando os mais corajosos com alívio e recuperação dos músculos, tendões e articulações -, nuvens que passam “dentro de você”.
São paisagens de tirar o fôlego e não desgrudar os olhos.
Ainda faltaram muitos lugares para conhecer, tanto no topo quanto ao longo do Parque; voltarei. Porém, nem só disso é feito o Monte Roraima. Ele é composto, sobretudo, por pessoas maravilhosas. Para além dos companheiros caminhantes, sempre prontos para uma prosa, uma palavra de incentivo, uma mãozinha, um afago, pude contar com os melhores guias e carregadores locais. Bravas mulheres e homens indígenas com quem aprendi e me emocionei demais, que cuidaram de nós com muito carinho e estavam sempre prontos a ajudar, nas pequenas e grandes dificuldades que pudessem aparecer. Que nos contavam histórias e lendas com brilho nos olhos, nos inspirando o devido respeito para com o local e nos fazendo perceber o quanto a alma deles é intimamente ligada àquele tepui. Um misto de seres fantásticos protetores, preservação, cultura e ancestralidade que hipnotizam e não dão vontade de ir embora.
Resumindo a viagem em duas palavras, posso dizer: mãos estendidas. Foi uma jornada espiritual, de autossuperação, autoconhecimento e afeto, em que dei e recebi só o melhor. Na volta ao Rio de Janeiro, onde moro, passei dias chorosa, sentindo falta da tranquilidade desconectada, da calmaria alentadora, da sensação de absurda liberdade e da paixão arrebatadora que vivi por lá (sim, essas coisas não acontecem só em filmes, rs). E cada vez mais me convenço de que a vida só vale a pena se nos permitimos fazer viagens que nos arremessem para fora da nossa zona de conforto, que nos desafiem, fazendo com que vivenciemos experiências maravilhosas. Meu conselho: permita-se, sempre é tempo!
As fotos de vcs se assemelham muito com as minhas tiradas em Nov de 2014. Coincidentemente o Humberto tbm foi o Guia do nosso grupo. Gratidão pelas lembranças que vc me despertou.
Veja um pouco da nossa aventura.
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Olá Daniel, nós agradecemos o seu comentário e sua visita ao nosso blog! Ficamos felizes por saber que o texto da Anne fez com que você relembrasse, momentos inesquescíveis de sua viagem! Volte sempre!
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Olá Daniel,
Achamos sensacional ver sua aventura no youtube, belas imagens, trilha sonora muito bem escolhida! Parabéns! E esteja, desde já, convidado para colaborar com nosso blog contando uma de suas aventuras! Abraços
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Estamos “aprontando” a mochila para partir de Santa Maria/RS dia 02 de março, faremos a trilha nos dia 04 a 09 de março!
O que dizer nesse momento??? Grande expectativa!!!
No retorno compartilharemos nossas experiências…
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Que maravilha Oscar! Desejamos que sua experiência seja proveitosa e cheia de beleza! Quando retornar, lhe convidamos para voltar ao blog e comentar sua experiência!Boa viagem!
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Olá amigos aventureiros!
Fiz esse caminho em março desse ano!
Foi incrível… foi lindo… foi mágico…
Lendo esse artigo, refiz toda a minha aventura!
Sou de Santa Maria/RS e também sonhava em conhecer o Monte Roraima. Mas há muito tempo fui postergando esse sonho, até que meu amigo Cleber Lotti, me tirou da minha zona de conforto com esse convite: “Vamos ao Monte Roraima?”
Convidamos mais um amigo daqui, O Guilherme Rocha, fizemos contato com um guia local, o qual eu super recomendo; Leopoldo Pilar Gonzáles, é descendente dos indígenas da região, conhece como poucos os encantos de toda a “Gan Sabana”. A ele e toda a sua equipe só tenho gratidão, pois nos acolheram (e nos acompanharam) com todo carinho, cuidado e profissionalismo.
Ele tem sua agencia em Santa Helena de Uairen, e pode ser encontrado nas redes sociais (facebook).
Lá, conhecemos nossos companheiros de aventuras; um casal de Minas Gerais, um professor da Espanha, uma Japonesa (sim, ela veio sozinha do Japão para se aventurar pelas Américas), mais um jovem engenheiro coreano e os 4 componentes da equipe do Leopoldo.
É um roteiro que vale muito a pena, concordo com tudo o que foi dito aqui. Mas exige muito preparo físico e sobretudo, desapego aos confortos cotidianos, pois o banheiro é no mato, o banho é na cachoeira e a luz… a luz é a mais lindas de todas… é a luz da lua e suas estrelas.
As amizades construídas na “forja” do Monte Roraima são para a vida inteira!
Gratidão a toda a equipe do Leopoldo e aos companheiros de aventura!
E uma dica aos aventureiros: Se tu ainda não foi, te programe vá, será inesquecível!
Abraços!
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Olá Oscar, que maravilha seu relato e comentário, engrandece nosso blog e compartilha informações importantes para outros aventureiros que queiram embarcar numa aventura tão incrível como visitar o Monte Roraima. Você e seus amigos, que fizeram ou vão embarcar numa viagem interessante, estão convidados para colaborar com o blog e contarem aqui suas aventuras. Um abração e nosso agradecimento!
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Eu estou por fazer um realtorio completo da nossa aventura.
Assim que fizer vou postar aqui.
Meu e-mail é:
oscarpitthan@hotmail.com
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Maravilha Oscar! Aguardamos!
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Esse texto é “um fruto” da Expedição Monte Roraima:
Mundo Perdido.
Lá na imensidão da montanha, naquele Mundo Perdido, no Vale dos Cristais, num lugar que ele sabia não lhe pertencer, no alto de um paredão escarpado, entre perdas e valas profundas, ele vira brotar uma bela flor.
Era a mais bela das flores daquela região remota, seu perfume exalava como o sorriso da mais linda mulher, preenchendo todos os espaços daquele ambiente inóspito. Era embriagante e doce aquele perfume…
No local onde nascera, em uma saliência da rocha, havia pouco substrato e a água da chuva chegava timidamente até ela. Mesmo assim era bela e majestosa, destacava-se naquele mar de rochas inanimadas pontilhadas por pequenos jardins que a Mão do Criador havia caprichosamente colocado ali.
As poucas flores que brotavam, em função do ambiente, haviam se tornado carnívoras a fim de sobreviver. Encantavam os insetos, e os assassinavam para deles se alimentar! Ela não! Apesar do ambiente em que vivia não perdera sua doçura!
Mesmo sabendo não ter permissão para invadir seu espaço, ele resolveu rega-la. Escalou como pode a íngreme parede rochosa, percebeu lá em baixo da fenda o abismo que os separava, esticou todo seu corpo e ainda assim conseguiu alcançar apenas suas raízes.
A água do seu cantil umedeceu-a timidamente e ela lhe pareceu sorrir… seu perfume invadiu suas narinas e ele também sorriu sob o frescor do ar da montanha e da luz branda de um sol de fim de tarde. E foi um momento misto de embriaguez e encanto!
E todos os dias foram assim… ele a regava… e se embriagava com seu doce perfume… e aquela flor tornava-se cada dia mais linda, mais exuberante entre as demais flores que vicejavam na montanha.
A exemplo do Pequeno Príncipe a historia se repetia: “Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante!” E a “Mãe Natureza” fazia sua parte, graças a sua dedicação e cuidado!
Mas ele precisou entender que o seu perfume não lhe pertencia… Ele tinha que deixar-la, seu destino era embelezar e embriagar com seu perfume as pessoas que ousassem lhe visitar naquele local que para muitos ainda é considerado sagrado!
E então, ele gravou com perdas preciosas o seu nome!
Hoje, lá no Vale dos Cristais, no Coração do Monte Roraima, há um nome gravado… O nome de uma linda mulher… Somente quem conseguir chegar lá descobrirá esse segredo…
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Prezado Oscar, que sensibilidade para ver o belo! Parabéns pelo texto poético e fascinante. É incrível como certos lugares no mundo nos desperta emoções e inspira impressões, que, às vezes, está bem guardada no nosso interior.Nós agradecemos por essa atenção tão especial ao nosso blog e é com prazer que compartilhamos suas palavras com nossos leitores. Abraços e comente sempre!
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Parabéns!!!Márcia e Erick,gosto muito de visitar o blog de vcs,pq as postagens nos permite tb fazer uma viagem imaginaria através das imagens,belissimas paisagens que nos inspira a contemplar como se estivesse com vcs, cada detalhe é uma nova descoberta.
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Nós agradecemos suas palavras que nos estimulam a dividir nossas impressões de viagens! Obrigado Glória, fique á vontade para comentar e opinar sobre nossas postagens. Volte sempre! Grande abraço, Marcia e Erich
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